”Vi muitas vezes pacientes superarem problemas aos quais outros sucumbiram por completo. Tal superaçao ou ampliaçao, revelou se como uma elevação do nivel da consciencia. Algum interesse mais alto e mais amplo apareceu no horizonte, fazendo com que o problema insoluvel perdesse a urgencia; empalideceu em confronto com um novo e forte rumo de vida. Não foi reprimido e nem submergiu no inconsciente, mas simplesmente apareceu sobre outra luz, tornando-se outro. Aquilo que num primeiro degrau levara aos conflitos mais selvagens e aterradoras tempestades de afetos, parecia agora, considerado de um nível mais alto da personalidade, uma tempestade no vale, vista do cume de uma elevada montanha. Com isto a tempestade não é privada de sua realidade, mas, em lugar de se estar nela, se está acima dela. Mas, como do ponto de vista anímico, somos ao mesmo tempo vale e montanha, parece uma presunção nada convincente sentir-se o indivíduo além do humano. Certamente sentimos o afeto (a emoção) que nos sacode e atormenta. Mas ao mesmo tempo é nos dada uma consciência mais alta, que impede nossa identificação com o afeto; somos capazes de considerá-lo como um objeto, e assim podemos dizer: "Eu sei que estou sofrendo". A afiermação do nosso texto, a saber: "A preguiça da qual não somos conscientes e a preguiça da qual somos conscientes, estão a milhares de milhas uma da outra", é plenamente válida no que se refere ao afeto.
(...)Ao observar a via de desenvolvimento daqueles que silenciosamente e inconscientemente se superavam a si mesmos, constatei que seus destinos tinham algo em comum: o novo vinha a eles do campo obscuro das possibilidades de fora ou de dentro, e eles o acolhiam e com isso cresciam. Em alguns este novo vem a partir de fora (um acontecimento externo) e em outros de dentro (uma necessidade animica). Mas de qualquer forma nunca o novo era algo somente exterior ou somento interior. Ao vir de fora, tornava a vivencia mais intima. Ao vir de dentro, tornava-se acontecimento externo. E jamais era intencionalmente provocado, mas fluia na torrente de tempo”.