Pitagoras Baskara Justino - Doctoralia.com.br

O casamento como relacionamento psíquico (e o problema do envolvente e do envolvido).

O casamento como relacionamento psíquico  (e o problema do envolvente e do envolvido).
 
Sempre que tratamos de relacionamento psíquico, pressupomos a consciência. E para poder tornar-me consciente de mim mesmo, devo poder distinguir-me dos outros. Apenas onde existe esta distinção, pode aparecer um relacionamento.
O jovem tem um conhecimento incompleto tanto de si mesmo quanto do outro. Na maioria das vezes ele costuma agir levado apenas por motivos inconscientes. Quanto maior for a extensão da inconsciência, tanto menor se tratará de uma escolha livre no casamento; e tanto mais uma coação do destino (costume social).
Em primeiro lugar, é o grau de ligação aos pais que influencia a escolha do cônjuge, favorecendo ou dificultando. O amor consciente para com o pai e mãe favorece a escolha de um cônjuge semelhante ao pai ou à mãe. Ao contrário, a ligação inconsciente aos pais (não necessariamente amor) dificulta uma escolha consciente e força modificações relacionais curiosas.
Vários são os caminhos que levam à conscientização; mas geralmente as mudanças ocorrem na segunda metade da vida: o que antes era paixão se torna obrigação e um peso insuportável. O meio da vida é um tempo de desenvolvimento máximo, quando a pessoa ainda está trabalhando e operando com toda sua força e todo seu querer. Mas neste momento tem início o entardecer, e começa a segunda metade. Aí procura-se encontrar suas motivações verdadeiras, independente dos costumes sociais – o indivíduo tem uma necessidade urgente de conhecer a si próprio. Mas estes conhecimentos não são lhe dados de graça. Chega-se a tais conhecimentos apenas por abalos violentos.
E daí surge o problema do envolvente e do envolvido no matrimônio: o envolvido (muitas vezes a esposa) se encontra totalmente dento do matrimonio. Sem nenhuma divisão, volta-se inteiramente para o outro (o envolvente) e se fecha em relação ao mundo exterior. Lá fora, não existe mais nenhuma obrigação importante ou interesse que o prenda.
O envolvente (que esteja passando por este processo de ampliação da consciência) precisa de modo especial conciliar-se consigo mesmo, se ampliar e por isso não consegue caber apenas no outro. O envolvente sempre procura espiar para fora da janela, no início talvez inconscientemente. Mas, ao atingir o meio da vida, desperta nele um desejo ainda mais intenso de conhecer a si mesmo.
Para o envolvido, este acontecimento vem confirmar, primeiramente, a incerteza dolorosa que sempre sentiu: percebe que pouco conhece verdadeiramente do seu cônjuge. Desaparece para ele a certeza da segurança desejada, e essa decepção o vai forçar a retrair-se para dentro de si mesmo (se não conseguir, por meio de esforços desesperados e violentos, fazer com que o outro lhe caia arrependido e de joelhos, declarando que toda essa procura de conscientização não passa de uma fantasia pueril ou doentia).
Mas se lhe falhar essa tentativa, então a desistência devidamente aceita lhe fará um grande bem: compreenderá então que aquela segurança que sempre procurava no outro terá que ser achada em si mesmo. Assim também entra no seu próprio processo de conscientização de si mesmo e descobre que, em sua natureza percebida por ele como simples, havia todas as complexidades e potencias que tanto admirava e procurava no parceiro.