Para o filósofo francês Albert Camus (O mito de Sisifo, 1955), esperança é uma evasão da vida, uma ilusão que criamos sobre o futuro. E que isto desvaloriza ou coloca em perigo a nossa experiência da vida no aqui e agora. Ele descreve sobre “a condição absurda da vida”, construída sobre a esperança do amanhã; e a aceitação e entendimento deste absurdo nos daria mais liberdade e viveríamos a vida com mais paixão. Mas acho que prefiro a visão da psicologia junguiana.
Sobre o processo imaginativo (e fantasias): Imaginação é o que nos faz expandir nossos horizontes. É ela que torna o ego maleável, sendo o alicerce para que nos movemos no desconhecido de novas possibilidades futuras. "Através da imaginação a alma se remodela" (Sean Fitzpatrick, 2020). O ato de imaginar envolve deixar o inconsciente aparecer. E dentre outras expressões do inconsciente, podemos entender a esperança.
Para Verena Kast (2003), a esperança é a emoção base (e necessária) para que vivenciemos todas as outras emoções de exaltação (como a alegria e a inspiração). Esperança é a emoção que nos relaciona com o futuro e nos oferece consolo. É uma expressão de confiança na vida. A ansiedade é também uma emoção que nos relaciona com o futuro, mas nos oferece medo. Todos nós temos uma visão de nossas vidas, uma visão de plenitude que ainda é inconsciente. Apesar de não conseguirmos ver uma meta (ou um significado), dentro de nós temos esta emoção boa que estamos indo para algum lugar – e este é o terreno da esperança (na definição junguiana, o Self que engloba a personalidade presente, passada e futura). Como ocorre com as outras emoções, a esperança, além do aspecto pessoal da personalidade - e que nos coloca em envolvimento com outras pessoas e com o mundo, carrega um aspecto inconsciente e arquetípico. E, para a autora, podemos relacionar a esperança ao arquétipo da Grande Mãe e da Criança Divina: esse espectro de energia que é o alicerce para a vida e para a vitalidade (o que nos induz à certeza que nossas necessidades serão preenchidas). Este mesmo espectro de energia psíquica também nos associa a um sentimento de unidade com os outros e com o cosmos. “A esperança se baseia em uma visão oculta do melhor.
Tendo esperança, agente caminha em direção a uma luz que não conseguimos ver, mas de alguma forma a sentimos dentro da escuridão do futuro. E isto nos leva a admitir opções criativas e recursos internos que nunca imaginávamos ter”. (Kast, 2003).
Mas é difícil reconhecer quando essa fantasia / imaginação está plantando uma semente para um novo terreno a ser arado ou se está apenas criando um caminho para a fuga. Esperança também pode nos deixar estagnados na ilusão de que a vida é outra que não aquela realidade. Estamos evitando algo quando temos esperança? Este discernimento pode ser feito através do engajamento do ego. Se a fantasia não engaja uma vontade (uma ação), mas simplesmente acalma, provavelmente aí devemos suspeitar que se trata apenas de um processo de fuga.