Em psicoterapia: não importa com quanta sinceridade eu trabalhe em analise meus sentimentos em relação ao poder, se minha mente ainda estiver arrebatada por ansiosas fantasias de crescimento e eficiência, ou ideias simplistas de controle, autoridade, liderança e prestigio, permanecerei amarrado em minhas lutas diárias contra as operações de poder no mundo concreto. É preciso sacudir e mudar as ideias e mitos que governam a minha mente. Do contrário, meu corpo emocional, bem adaptado, terá capacidade de se comunicar melhor na empresa, ser mais resiliente para me manter no emprego, mas sempre continuará ansiando por “potencialização” (pelo fato de eu ainda não ter percebido todas as complexidades do poder e, portanto, ser incapaz de expressar o que realmente desejo). É preciso prestar atenção aos fios aéreos que conduzem essa energia, às ideias de poder que permeiam a nossa individualidade. Se não conhecemos as ideias que temos, são elas que nos têm.
O Heroísmo mutante no Poder: as ideias de crescimento e eficiência expressam o antigo heroísmo de avançar contra inimigos, contra a inercia, de não se acomodar no hábito ou na satisfação do trabalho realizado. Dado que o movimento no heroísmo clássico é para frente e para cima, a mais difícil de todas as tarefas da consciência heroica é olhar para dentro, para seu próprio ímpeto, o mito que a impele na direção de um fim cruel (Hercules enlouquecido, Jesus crucificado, Édipo cego, entre tantos...e o que cada um de nós tem sacrificado?). Poderá o heroísmo mudar o seu próprio paradigma? Novos estilos de heroísmo são exigidos e um exercício inteligente do poder começa na mente capaz de penetrar nas estruturas mais profundas de suas ações (e refletir).
Subordinação e o Complexo do Poder: qualquer tipo de subordinação desperta o Complexo do Poder (situar o ego acima de qualquer influência) – afirma-se o Eu sobre o Outro, o que quer que seja este Outro, equivale a rebaixar o Outro. E são vários os meios para isso: coerção, força de vontade, persuasão, argumentação lógica, conversão pela fé, terror, manipulação. Mas esta posição superior define-se em termos de alguém ou alguma coisa que se deixa ser subserviente.
É possível exercer o poder sem dominar? Essa é a grande questão da nossa psique histórica, da contemporaneidade e talvez até da natureza humana: como obter resultados sem controle opressivo? (essa questão permeia não so relacionamentos no trabalho mas mesmo questões de como educar dos filhos). Talvez o ideal seria desmantelar o organograma e os escalões de poder de alto a baixo e, em seguida, reestruturar as equipes em situação de completa igualdade entre os membros (grupos flexíveis, cooperativos e sem chefia). Mas aqui também novos pecados substituem os antigos: nivelamento implacável e que nenhuma cabeça ouse se esticar demais. Não ter ninguém para olhar de baixo para cima é o preço que se paga para não olhar ninguém de cima para abaixo. Emerge uma nova tirania: o absolutismo da igualdade.
Amor e Poder: a intimidação, o sadismo e o punho fechado da mão humana jamais se transformarão inteiramente na palma que conforta e abençoa. Mas, no fundo do coração, sentimos que o mundo não é realmente assim tão perverso e violento, e que o amor, embora não mostre suas cartas assim como faz o poder, ainda assim conduz todas as coisas, internas e ocultas, por seus pequenos caminhos invisíveis. O poder exibe, ruge e aprisiona, mas o amor pode tornar os valores permanentes. Talvez a solução desta cansativa disputa entre amor e poder seja apenas colocar um “s”. O mundo não é um único mundo, o poder não é uma ideia única, e assim também é o amor. Isso também vale para os negócios. Lucros não são só para acionistas. O monoteísmo do lucro talvez possa ser afrouxado, afim de abrir espaço para outros tipos de lucratividade: o prazer e a beleza de um bem comum, a longevidade da vida e de futuras gerações, a lucratividade para o espirito. Quando renunciamos à ideia obsessiva de um centro único e à ideia de ordem como unidade, as coisas nunca realmente vêm abaixo. Elas simplesmente continuam desempenhando suas variedades – girando e girando – a mente incessantemente nutrindo novas ideias e sendo nutrido pelas novas ideias.